Distúrbio motor da fala, caracterizado pela falta de programação e planejamento dos movimentos motores orais para a ideal produção dos sons desejados. Também pode ser compreendida como uma desordem neurológica dos sons da fala durante a infância. Logo, a precisão e consistência dos movimentos que constituem a fala são prejudicadas em razão de déficits neuromusculares. Tais prejuízos manifestam-se no planejamento e programação de parâmetros das sequências dos movimentos da fala, portanto, resultando em erros ou dificuldades na produção dos sons.

A criança com apraxia de fala apresenta dificuldade em programar de maneira voluntária o gesto articulatório. Portanto, mesmo nas situações em que ela sabe o que deseja expressar, demonstra dificuldades em organizar e programar a produção dos fonemas. 

Ou seja, o apráxico apresenta, em suas tentativas de fala, uma intenção específica do que deseja emitir, contudo não é capaz de realizar a programação das posturas adequadas dos órgãos fonoarticulatórios a fim de produzir os sons desejados na sequência e ordem corretas.

Sinais e sintomas da apraxia em crianças

  • Bebês que não costumam se engajar em jogos vocais e cujas primeiras emissões costumam não se desenvolver em sons diferenciados. 
  • Atraso da emissão dos primeiros vocábulos significativos, os quais ocorrem entre os 18 meses até os 4 anos de idade. 
  • Combinação de palavras em sentença de dois vocábulos, com atraso, apresentando-se apenas entre os 33 meses e os 7 anos.
  • Falta de habilidade na realização de movimentos voluntários envolvidos na fala;
  • Articulação comprometida e, consequentemente, comprometimento da prosódia (melodia da fala);
  • Esforço da criança para encontrar posturas corretas dos articuldores (ex.: movimentos silenciosos dos lábios de forma forçada e contorcida)
  • Consciência da própria dificuldade e, consequentemente, frustração em razão da não produção do som específico pretendido;
  • As falhas mais comuns consistem em substituições de fonemas, seguidas de omissões, inversões, adições, repetições, distorções e prolongamentos de fonemas
  • Maior incidência de erros à medida que é aumentada a complexidade dos ajustes fonoarticulatórios; menor incidência de erros em vogais em relação às consoantes isoladas; grande incidência de erros fonoarticulatórios em fonemas fricativos (ex: F, V, S, Z) e em sílabas constituídas por grupos consonantais;
  • Repetição de sequência de fonemas apresentam maior dificuldade do que a repetição de um único fonema isolado;
  • Maior facilidade na repetição de fonemas em pontos articulatórios anteriores (ex: P e B) do que em posteriores (ex: K e G);
  • Fonemas mais frequentes nas palavras (conhecidos pela criança) são produzidos com maior precisão do que os menos frequentes;
  • Respostas imitativas apresentam mais erros de articulação do que nas falas espontâneas;
  • Ausência de alterações relacionadas à sucção, mastigação e deglutição;
  • Durante a leitura de um texto, os erros são mais frequentes em palavras de maior valor linguístico e psicológico e que são fundamentais para a comunicação;
  • A correção da articulação possui maior precisão quando os estímulos são auditivo-visuais comparando-se a estímulos unicamente auditivos ou unicamente visuais.;
  • Ocorre maior facilitação da obtenção do ponto articulatório correto através de ensaios repetidos em vez do aumento do número de estímulos.
  • É válido ressaltar que, apesar de poderem ser identificadas as características acimas em uma criança com apraxia da fala, elas não são, obrigatoriamente, presentes em todos os casos. Entre as mais frequentes podem ser citadas as produções inconsistentes, as dificuldades motoras orais, a hesitação no momento da fala, a falta de habilidade na imitação de sons e o aumento da dificuldade em produzir sons a medida em que as sentenças aumentam.

Possíveis causas da apraxia

A apraxia de fala na infância pode estar relacionada à uma causa neurológica conhecida, infecções e/ou trauma; pode surgir como uma sinalização primária ou secundária em crianças com desordens neurocomportamentais complexas, seja de origem genética ou metabólica; e, por fim, pode não estar associada a qualquer desordem neurológica conhecida, mas associada a uma mudança na emissão dos sons da fala de origem neurogênica desconhecida.

Diagnóstico

As crianças com apraxia da fala não apresentam quaisquer anormalidades estruturais ou paralisias evidentes do mecanismo orofacial. Outro ponto a ser ressaltado corresponde à audição, a qual se apresenta dentro do padrão de normalidade, e ao uso das expressões faciais, de gestos, de sons não-verbais e de vocábulos isolados ou frases, os quais são utilizados pela criança com intenção comunicativa.

O profissional habilitado para realizar o diagnóstico da criança com apraxia é o fonoaudiólogo com experiência na área. A avaliação deve levar em consideração as questões da produção da fala, a linguagem, a motricidade orofacial e os movimentos motores orais (praxias). Leva-se em consideração os aspectos familiares e educacionais, podendo haver necessidade de encaminhamento para outros profissionais (psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos). Entre os dois e três anos da criança, podemos suspeitar da apraxia e iniciar uma intervenção mais específica e precoce.

Terapia Fonoaudiológica (tratamento):

A terapia deve ser individualizada, frequente,  intensa, motivadora e divertida. Os resultados e evoluções podem vir a longo prazo, a depender da gravidade e idade da criança. Os treinos devem ser dirigidos, selecionados e constantes. Elencamos palavra-alvo (partindo das mais simples e conhecidas pela criança) e iniciamos o processo de facilitação do planejamento e programação dos movimentos da fala. A família é agente ativo no processo de intervenção, realizando as orientações propostas, dando o suporte terapêutico. Bem como a escola, pois, por ser um ambiente rico em relações sociais e comunicativas, tem grande relevância no processo evolutivo da criança, por isso, também deve ser orientada.

“Eu sei mais do que digo. Eu penso mais do que falo. Eu entendo mais do que você imagina”